quarta-feira, 25 de junho de 2008

Rua da Fé

A folha caída da árvore cedeu à gravidade quase em simultâneo com a alça que tombou o bastante para oferecer um ombro desnudo à minha atenção.
Perdi o rasto à folha, o Outono podia esperar, enquanto me deixava arrastar, fracções de segundo, pela sensualidade repentina que explodiu no meu rosto quando se espalharam rios feitos de cabelo naquela pequena porção de mulher.

Instintivamente ela moveu o braço esquerdo na direcção da alça rebelde mas estacou quando o seu olhar se cruzou com o meu.
Hesitei entre fazer de conta, disfarçar, para a poupar a um possível embaraço ou aproveitar cada instante precioso daquele momento de excepção.
O impulso mais forte venceu e ela percebeu e acrescentou à beleza da situação um sorriso tão divertido quanto provocador.
Deixou-se ficar assim, alheia ao grupo que a rodeava sem lhe prestar a devida atenção.

E eu, hipnotizado, saboreei a emoção alternando entre o deleite na visão daquele ombro e o desafio que conseguia ler-lhe no olhar.

Depois deixei de hesitar.

Avancei confiante mas sereno o bastante para lhe dissipar quaisquer receios. Apresentei-me e partilhei com ela, palavras escritas com a voz, os contornos do impacto sofrido. Sempre muito descontraído mas sem correr o risco de a intimidar de alguma forma, depois de uma troca simpática de pequenos esboços de nós que reduzissem a distância, convidei-a a prolongar o diálogo na esplanada da Rua da Fé.

O milagre não teve por onde fugir.

domingo, 22 de junho de 2008

Cat confort


Rua do oeste

Estás entediada no meio de uma pequena e ruidosa multidão de palermas.
E eu sonho-me de imediato a galope no corcel branco para cuja garupa te puxo, percorrendo a avenida sob os aplausos dos que nos adivinham a caminho de um paraíso qualquer.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

quinta-feira, 12 de junho de 2008

É só pedir...

São dez, apenas dez pequenos pecados que me façam nutrir um sentimento de culpa. E aqui existe um contrasenso meu: são apenas dez de entre centenas de pecados, mas são uma multidão de dez pelos quais eu sinta algum tipo de remorso ou de desconforto ou outro tipo de sentimento de culpa. Titânico, o esforço. Mas bute.



1 - Em qualquer das minhas birras de menino mimado, curto sempre o prazer de perturbar quem as justifica mas não me perdoo a figurinha.

2 - Involuntariamente, a minha vista deixa-se arrastar para o traseiro da vizinha de cima e é uma maravilha, mas fico um nadinha constrangido por isso só acontecer quando apanho o vizinho pelas costas.

3 - Sempre que fumo em locais proibidos por lei (sem hostilizar descaradamente os antitabagistas, claro) experimento a tal sensação ambivalente.

4 - Quando penso com outra parte do corpo que não o cérebro.

5 - Nos raros momentos de insanidade temporária em que ultrapasso os 220 km/h na auto-estrada.

6 - Sempre que consigo argumentar na perfeição em abono da posição contrária à que subscrevo, só para treinar a palheta e danar um/a teimoso/a ou apenas incoerente.

7 - Quando consigo dizer não a quem já contava com o sim no cu da galinha.

8 - Sempre que me faço esquecido e abro a porta em tronco nu às Testemunhas de Jeová.

9 - Quando se torna claro que a próxima será a mulher do próximo.

10 - Na minha invariável opção de matar correntes virtuais, não as transmitindo a alguém.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

terça-feira, 3 de junho de 2008

Vista de fora

Ao longe a cidade brilha sob um halo alaranjado de luz que lhe pinta o céu da madrugada, formando como que uma cúpula assinalada por um gigantesco letreiro de neon. E eu hesito e não avanço, preciso de espaço entre mim e aquele tapete de casas que cobre o mesmo chão onde antes cresciam as árvores e agora apenas medram habitáculos de betão.

Ao longe a cidade zune um som imperceptível que me evoca a sua respiração, ofegante, sob o manto de poluição sufocante que asfixia uma população cada vez mais vazia de vontade e menos dotada de capacidade para suportar as agressões de que uma cidade é capaz.

Ao longe a cidade que nos faz sentir periféricos nos subúrbios da emoção enquanto se instala arrogante no centro da nossa atenção.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Road to nowhere

Que caminho é esse que segues às cegas enquanto deixas que o tempo se escoe por entre as fissuras abertas pelo teu vacilar?

A sós

A rua está deserta outra vez.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Vinte e nove, terceiro bê

Lembro a luz espalhada pelo teu corpo, fragmentada em salpicos de cor pela passagem da luz do sol no tecido colorido que nos protegia das indiscrições.
Lembro as nossas ilusões de um amor feliz e sem final, transpirados sob o lençol, clandestinos naquele quarto em vez da sala de aulas onde deveríamos estar a essa hora.
Lembro ainda que me lembrei pela vida fora da tua inesperada partida para um ponto não muito distante mas que para nós se revelou longe demais.

O silêncio que aos poucos se instalou onde antes fervilhavam os sons, apenas o matraquear de um teclado monocórdico nos tons, até ao dia em que mesmo as palavras escritas foram deixando de surgir no monitor, acabaria por emudecer aquele amor tagarela (tão intenso que parecia na sua dimensão carnal).

Era disso que se tratava afinal. E só me lembrei desse pormenor porque reparei que não mudaram as cortinas na janela por onde me fazias o sinal a sorrir e assim me davas luz verde para subir.

O resto já esqueci...

quinta-feira, 24 de abril de 2008

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Rua primeira

Deambulo com a minha língua pelo teu corpo em busca de quê?

segunda-feira, 21 de abril de 2008

IP1

O conta-quilómetros deixou de funcionar, colado num ponto para lá da sua marca final, mas o pé no acelerador desmentiu o que o bom senso insistiu em afirmar.
A estrada que parecia nunca acabar e eu dizia para com os meus botões que aquilo não era uma questão de os ter no sítio mas apenas (mais) uma simples estupidez. Sem sentido definido, por uma vez, ao caminho, perdido, em busca do que restava de mim.
Um volante assim na minha cabeça acelerada era mesmo o que faltava na minha condução desastrada pelos becos que a vida me ofereceu. Um amor que morreu, ressuscitado. E mais outro que surgiu de qualquer lado e me abalroou a carroçaria com a força de um camião.

O acelerar do meu coração, frame by frame, sem travagem possível.

A certeza da imortalidade garantida no calor do abraço do amor, combustível, no regaço dos anjos, nas asas da paixão.

Nesta imensa auto-estrada onde não consigo pressionar o travão.

sábado, 19 de abril de 2008

Lado Cão


Take Me Higher

Vejo toda a cidade porque a sobrevoo a bordo de um balão imaginário, cheio com a respiração produzida por nós dois sempre que fizemos amor.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Por aí...

Foto: CatDog

terça-feira, 1 de abril de 2008

A tua rua

Sentado neste banco à beira-rio, imagino-te ao desafio na outra margem e apetece-me a viagem até esse lugar. Apetece-me desafiar também a vertigem que se impõe de cada vez que me elevo às alturas onde o teu rosto se desenha ao meu olhar.

Nas nuvens que vejo passar, sentado neste banco, num barco em pensamento, enroscado como um gato, tatuado em ti.

sábado, 29 de março de 2008

quinta-feira, 27 de março de 2008

segunda-feira, 24 de março de 2008

Avenida dos sonhos

Vejo-te tão bonita, entretida a ler um livro na paragem do autocarro no lado oposto da avenida.
Gosto muito mais da vida quando posso olhar-te assim, em silêncio. Enquanto me esforço a pensar como poderás ser minha.
Enquanto me imagino transporte público, de carreira, só para te poder apanhar.

domingo, 23 de março de 2008

Rua dos milagres

Na rua o povo festeja o alegado desaparecimento do cadáver de um homem muito especial. Acreditam-no divinal, eterno milagreiro, o povo festeja o padroeiro de um mundo de pernas para o ar.

Capazes de acreditarem em milagres tão religiosos como um coelho a pôr ovos de chocolate, assumidamente pagãos.

Mas incapazes de seguirem os preceitos mais elementares nos seus comportamentos desses importantes ensinamentos, alegadamente cristãos.

sexta-feira, 21 de março de 2008

quarta-feira, 19 de março de 2008

Rua do quartel

Passo ao lado e até finjo nem ver, a triste figura dos que julgam poder reclamar para si o estatuto de galos únicos na capoeira. Os que desertam de batalhas que nem chegam a começar, pois não se justificam, e regressam depois de convictos da cessação das hostilidades, fardados a rigor como paladinos do amor mais estéril, galarós.

Palermas que se sentem tão sós na sua visão reducionista das pessoas que entendem como troféus e ainda por cima os estimulam na sua demanda inglória por um lugar em qualquer história que seja digna de contar depois.

Passo ao lado e sigo o meu caminho programado, com pequenos acertos na rota. Os necessários para me afastar de quem me inspira misericórdia, afogados numa mixórdia de complexos de inferioridade com sede de projecção.

Conheço-os de ginjeira, vizinhos, cada um com os seus caminhos tortuosos a percorrer.

Faço de conta que nem estou a ver, viro as costas pelo doce prazer de assistir ao seu regresso ao centro da praça, em busca do seu sol privado, guardado esse bocado para os que na realidade vivem das sobras que lhes dão mas alardeiam na ficção os seus patéticos galões de hipotéticos conquistadores.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Praça deserta

Fartei-me de caminhar num espaço vazio.
Desandei dali.
Também.

É impossível escrever

Um amor que não se faz.

domingo, 16 de março de 2008

terça-feira, 11 de março de 2008

Travessa da tampa

As horas passadas na ausência de um sinal, olhos postos nas letras de um jornal encaradas como gravuras. Sem pachorra para leituras perante a tampa que me salta pela tampa que me preparo para levar.
As horas que insistem em passar e eu indeciso acerca do rumo a dar a tal dia, na ausência de uma maria por quem desmarquei as coisas que pensei para ocupar o tempo precioso agora esbanjado na ruminação interior da desfeita.

O limite traçado num ponto qualquer do tempo marcado no telemóvel que insiste no silêncio comprometedor das ilusões seja de quem for de me voltar a pôr a vista, excepção feita a um argumento catastrofista que possa atenuar a evidente desconsideração de que não me sinto merecedor.

O jornal num contentor e o passo apressado na direcção do outro lado da rua, a decisão inevitável diante do mutismo inexplicável que me perturba sobremaneira.

Mas a vida é tão porreira que me oferece de bandeja a opção que se deseja quando o orgulho ferido se vê tão bem substituído por alguém com arte e sabedoria para lhe dar a estocada final e nos fazer subir o astral rumo ao paraíso que concebemos no céu, mas na terra é que ele se faz .

A vida é mesmo capaz de das maiores piruetas para nos deixarmos de tretas e de aceitarmos o milagre tal e qual se revela.
A vida é mesmo bela.

E eu quero vivê-la sem regras bacocas, sem permitir às desilusões que passem de pequenas perturbações afinal tão inócuas...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Barbearia Gonzaga

Ridículo na cadeira, observo pelo espelho quem passa lá fora enquanto finjo que escuto a conversa de taxista do homem da tesoura.
Uma morena e uma loura, por uns instantes, de uma ponta à outra de uma montra sempre pequena demais.
O homem da tesoura que recita os jornais desse dia, o Sporting que perdia e o Benfica que se deixou empatar. Mais um político a aldrabar e uma criança molestada, a tesoura tão afiada de raspão numa patilha e a aparadela distraída de uns centímetros a mais.
Desculpe que eu acerto já, num instante...

E as madeixas exageradas a choverem no chão, o rosto parvalhão naquele espelho, espelho meu há alguém mais ridículo do que eu nesta cadeira, outra loura passageira no reflexo, por detrás, e eu estico o pescoço sem querer com a vontade de a ver abaixo da cintura e o homem da tesoura, por azar, nela prendeu o olhar também.

O corte à mancebo e eu a ver se percebo como pode uma coisa destas acontecer. O pescoço a doer por debaixo do penso rápido, fique com o troco, e fujo dali, está tudo louco, em busca de um refúgio qualquer.


A vista pousada numa mulher que domina o horizonte do outro lado da rua, imagino-a toda nua.
Ridículo, na cadeira da esplanada, com a bica entornada, bem quente, parvalhão, no colo imprudente de um gajo em dia não.

sábado, 8 de março de 2008

terça-feira, 4 de março de 2008

segunda-feira, 3 de março de 2008

Rua do mercado

Percorro a teu lado a rua do mercado como um puto feliz. Noto, confiante, a forma como sorris e sinto presente uma agradável empatia.

Alimento essa magia com um momento irresistível de humor enquanto nos vejo a fazer o amor num compartimento isolado do meu cérebro dividido em dois. Um trocadilho hilariante e o silêncio depois, enquanto parecemos pausar no sentido de tomar a decisão que se impõe.


A hesitação que se interpõe naquele hiato, confrontados com o facto inquestionável de o outro ser tão desejável mas existirem as múltiplas barreiras que se constituem impedimento quando se aproxima o momento de avançar com determinação.

O constrangimento da situação que ameaça destruir as hipóteses de se consumar este apelo poderoso e eu muito ansioso por encontrar a frase mais certa, a abordagem mais correcta para espantar os fantasmas que nos possam impedir.


A pressão que ameaça entupir a verbalização de um desejo incontido, o olhar tão distraído a revelar-te o quanto te quero nesse instante. A alusão aos sinais do destino que nos indicam o caminho, com o ar de quem até acredita nessas coisas, até à colisão frontal com o indicador de trânsito em metal que desfaz a pose enquanto te desmancha em gargalhadas.

A seta branca em fundo azul, sentido obrigatório, apontada por coincidência para a rua onde uma casa nos aguarda para concretizarmos enfim aquilo que o destino assinalou em mim, num dos lados da cabeça.

Os teus beijos a fazer com que esqueça a dor do hematoma, os dois deitados numa cama onde irá acontecer aquilo que estava afinal predestinado no sinal abalroado.

E na chispa que de repente incendiou o teu olhar.

domingo, 2 de março de 2008

Rua sem nome

E de repente percebo-me perdido num ponto qualquer desta cidade sem fim que acontece dentro de mim, numa hora de ponta permanente que me priva da lucidez.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Ovalunda do aviário (*)

Os passos titubeantes de um bebé amparado pelas pernas e pelas asas protectoras de uma mãe. Os passos saltitantes de uma criança também, despreocupada a percorrer a calçada enquanto oferece o seu sorriso ao sol.
Os passos medidos de adolescente que considera importante o estilo e o ritmo imposto ao caminhar. Passos acelerados quando se aprende o que implica crescer, o horário a cumprir e uma vida atarefada, sempre tão complicada pelo tempo que se esgota em questões insignificantes, de pormenor.

O lento passear de ancião desamparado pela vida que nos coloca de lado para abrir caminho a quem corre sem parar.

A ausência pouco notada no quotidiano desta calçada de todos quantos já esgotaram os passos disponíveis. Os vultos substituíveis no ajuntamento em hora de ponta, passos largos a caminho de outra calçada qualquer.

E eu sigo os contornos de uma mulher que passa, reluzente, pelo meio da praça, enquanto conto mentalmente os passos necessários para o ponto de intersecção.

O início de uma relação inesperada ou apenas mais um tropeção na passada, pouco importa na altura em que a pose observadora se rende à urgência de caminhar quem não perca pela demora.

A vida que estava a acontecer ainda agora.


(*) Ovalunda: Definição e Direitos de autor(a) AQUI.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Rua do templo

Adoro as mulheres e tudo aquilo que são e o que representam, entendo-as como origem de quase tudo quanto de bom uma vida nos dá.

Adoro comunicar, sobretudo por escrito, e com isso aprender cada vez mais acerca de mim nas outras pessoas. E vice-versa. Olhos nos olhos ainda melhor.

Também adoro um deus chamado Amor, ao qual presto reverência em cada dia da minha existência porque não lhe dispenso uma manifestação da sua omnipresença. Nos outros ou em mim.

Adoro momentos de excepção, mágicos. Daqueles que se revelam de repente aos nossos olhos e aos outros sentidos também. E à alma, quando se gravam em ouro no cofre-forte das emoções intemporais. Nunca experimentei a sós.

Adoro sentir que deixo rasto da minha presença na vida de outros como alguns gravam em mim a sua. De preferência um rasto tão agradável e permanente que sirva de trilho para o regresso a mim, inadiável algures no tempo. Nem que apenas no sorriso maroto provocado por uma recordação intensa e feliz.

Adoro todas as criaturas capazes de ligarem as suas existências à minha, mesmo que apenas de passagem nos seus próprios caminhos, sob um dos pressupostos anteriores.

Cumpri.

Mas não me peças para reencaminhar a alguém. Embaraça-me a falta de opções...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Rua da ponte

A ponte foi temporariamente cortada, talvez para obras nessa importante via de comunicação.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Duplos Sentidos

Há um homem que corre ao fundo desta avenida. Parece fugir de uma vida, pois nem por uma vez se volta para trás.
Parece sentir-se capaz de escapar a uma realidade qualquer, um problema financeiro ou o amor por uma mulher errada, o homem que corre ao longo desta estrada sem medo dos carros que o ladeiam no alcatrão.

Acabo de cruzar com ele o meu olhar curioso e acho sem dúvida espantoso o seu ar de quem tenta conjugar alívio e aflição. Parece ter perdido a razão algures, provavelmente nos bastidores do seu dilema, mas não consigo sentir pena da aparente demência que lhe preserva a consciência de alguns dolorosos beliscões.

Há um homem que corre para fugir às emoções demasiadas, indiferente a quais as estradas que precise palmilhar para atingir um lugar calmo e seguro, pois no mapa do seu futuro multiplicam-se as incógnitas.

E eu acabo de me cruzar com ele, corremos em direcções opostas.

Talvez, quem sabe, em busca das mesmas respostas...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Rua da belavista

Vejo lá ao fundo o muro onde te sentavas mais a paisagem que se estendia no além por detrás.
Vejo muito fortes as cores de desejos e de amores partilhados nos corpos pressionados contra aquela divisão de tijolo entre o coração e o miolo que acabava sempre por nos esconder apaixonados no proibido lado de lá.

Hoje não vejo ao fundo, onde esta rua acabava, a silhueta que eu ansiava ali encontrar, agora que só me resta imaginar-te ali sorridente e por detrás o horizonte, magnífico, exposto a nu.

Agora vejo lá prédios e uns quantos quintais. Mas naqueles dias só existias tu.

E absolutamente nada mais.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Beco da taberna

Sinto no ar o cheiro do pão acabado de fazer quando chego da noite queimada de bar em bar.
O pavimento a oscilar e eu em busca do equilíbrio necessário para não fazer má figura. O fio de prumo interior a traçar uma diagonal imaginária, concentro-me no candeeiro de rua e encontro o alinhamento possível. Passo a passo, rumo à porta onde te vejo abraçada a um vulto com pinta de abstémio. Passo a passo, tropeção, vou tomando a decisão menos acertada porque já não és minha namorada e eu nem tenho ciúmes de ti ou de qualquer outra mulher.

Acordo mais tarde no chão e tenho desenhada uma mão a vermelho no rosto, corado à bruta pela força da razão nenhuma que me perdeu nesse dia.

Olho de soslaio para o grupo reduzido de mirones, a dignidade possível num destroço erguido como um colosso da pedra da calçada. A padaria abandonada à necessidade de dormir.

Ou talvez apenas fugir. Da sombra da minha estupidez.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Avenida jus ao nome

You Are: 50% Dog, 50% Cat
You are a nice blend of cat and dog.
You're playful but not too needy. And you're friendly but careful.
And while you have your moody moments, you're too happy to stay upset for long.

Alameda da Saudade


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Beco dos namorados

Entrego-me à nostalgia e decido investir o dia a calcorrear antigos caminhos, a saborear as vozes, os cheiros e os tons.
As velhas ruas da infância embevecida a contemplar janelas por onde despontavam, a horas certas e determinadas, os rostos das namoradas que o passado me ofereceu.
As ruas que se percorriam devagar na adolescência, tentando aumentar a distância percorrida sobre as nuvens de uma paixão assolapada. Um beijo em cada vão de escada, a permanente e mal controlada vontade de ir um pouco mais além.

Caminhos renovados pelos passos apressados de adultos que preferiram esquecer o amor e aprender a lidar com a dor da separação, com o advento da resignação nas segundas escolhas que jamais conseguem transcender-se nas expectativas de quem não as preferiu mas apenas preencheu um vazio de forma atamancada.

Com cada namorada uma sensação especial, no meu coração, fundamental, ser grato por aquilo que partilharam enquanto comigo nas ruas amaram antes do tempo a dois se esgotar.
O prazer de namorar, de aprender a amar nas alegrias e nas tristezas, de apreciar as muitas belezas que apenas desabrocham sob a luz e o calor intensos da paixão.

Acarinho a recordação de cada rosto com nome, uma saudade que jamais se transforme num azedume ressabiado, em cada momento lembrado num ponto de referência qualquer.
Acarinho a imagem de cada mulher que namorei nestas ruas.

Mesmo das que desertaram no momento em que se souberam duas...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Praceta do imprevisto

A noite fria de um inverno tão seco como a última expressão que me dirigiste, no dia em que decidiste abraçar um modo hostil.
Escuto a sirene à distância, de uma apressada ambulância que transporta alguém para a urgência hospitalar onde tentarão reanimar um coração em colapso final. Pessoa conhecida, anciã solitária numa caverna situada num edifício qualquer. Revela-se essa realidade pela boca de um mirone de circunstância, atraído pela ambulância que implica a desdita de que se quer testemunha, a plateia sempre apinhada de quem parasita o sofrimento alheio para minorar um pouco o seu, por comparação ou ainda pior.

O mesmo critério que aplicaste ao amor que não te neguei até ao momento em que deixei cair a vontade nos braços de um fantasma em que tornaste a relação que elogiaste enquanto o coração te guiou.

Depois, na prática, parou e a cabeça logo tomou as rédeas da tua loucura e impôs a ditadura do boçal, reduziu-te a uma pessoa banal das que compõem esta multidão que se acotovela para sorver a desgraça alheia sem qualquer sinal de perturbação.

Tão fria, a multidão, como a tua atitude que recordo nesta noite em que a rua, agreste, me presenteia com a imagem de outro fim.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Travessa das iguarias

Brilha o sol e ajuda-o cada lençol branco pendurado no estendal, reflectindo na calçada e nas paredes envelhecidas um revigorante acréscimo de luz.
Tal e qual como o que se produz quando te vejo cruzar essa porta e o teu rosto vem iluminar ainda mais o meu dia.

Invade-me uma alegria soalheira, a certeza de um período à maneira sob o auspício do teu sorriso e a transparência marinha desse teu olhar meio verde ou meio azul.
Recordas-me os mares do sul e eu, marujo por vocação, navego pelo coração e enfrento uma tempestade interior quando me apercebo do furor que provocas à tua passagem. O ciúme tornado vertigem no enjoo de embarcado num oceano revoltado pela cobiça de tantos pretendentes ao matrimónio ou, como eu, apenas aspirantes a um amor transitório entre portos de abrigo que se convertem num castigo quando chega a hora de zarpar.

Brilha o sol no teu olhar. E eu, ofuscado, desvio o meu para o outro lado para me poupar à dor da luminosidade agressiva e ao torpor da velocidade excessiva a que no meu peito circulam as emoções por ti provocadas.

Sensações ensolaradas, nas manhãs em que percorro a tua linha costeira da cabeça aos pés e receio encalhar a traineira no regaço do teu mar que me amedronta desequilibrado no convés.

Sei que pouco adianta tentar fugir do sol e procurar a escuridão prudente.
Tu és como um farol.

E eu vejo-te e fico cego e sabes bem como cedo ao teu foco de atracção incandescente.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Praça do adeus

Ela sentou-se na mesa da esplanada onde melhor conseguia observá-la sem proezas de contorcionista.
Ela ocupou a totalidade do meu horizonte, onde antes o olhar se petrificava na estátua coberta de verdete em honra de um ilustre qualquer.
Ela era uma linda mulher e quando se levantou para partir o bando de pombos acompanhou a tendência, voou, os figurantes que percorriam a praça recolheram aos seus domicílios em busca do jantar e até o sol pareceu antecipar o ocaso para marcar aquela penosa despedida.

Eu acendi outro cigarro, levantei de novo o jornal e enclausurei-me na alienação de uns considerandos acerca de uma curta metragem para a qual um dia escreveria um deslumbrante guião.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Largo do coreto


Se há vez que não nos sai da memória é a primeira. E a Artemisa entendeu ficar assim ligada em definitivo à existência deste blog. Por ser a primeira a mimosear o espaço com um prémio e ainda por cima um prémio pá carola.
Não porque se trate de uma droga de prémio mas porque o nome diz tudo.

E agora compete-me reencaminhar a coisa. Confesso que não disponho de muitas alternativas, pois não só rareiam os blogs dignos de fixar como na maioria dos casos os/as autores/as já estão envolvidos nesta corrente.

Por isso não rejeito mas adio essa enumeração, para ganhar o tempo necessário para ponderar a situação.

Fico-me pelo agradecimento a quem me homenageou. Pela escolha e ainda mais pela respectiva justificação.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Rua da amargura

Fingiste tentar. Tentaste desafiar, a ver se pegava. Provocaste sensual e depois insultaste boçal quando percebeste o fim da esperança na imagem distante das costas que te voltei.
Percorreste a rua em busca de uma vingança que não te merecia a minha discrição onde morreram as tuas tentativas fingidas, as tuas emoções mascaradas de uma paixão de carnaval.
Nem essa foi conseguida, avisado que estava da falsidade da tua intenção. Avisou-me o coração que desmentia as tuas palavras, essas mesmas que não passavam de um esqueleto visível do teu abjecto ardil.

Jamais pisaremos de novo a mesma rua ou partilharemos um espaço comum, ciente que me deixas da diferença existente entre ti e as outras que tentaste em vão conspurcar com o manto de dúvida que tive o cuidado de te cobrir pelas costas, com todo o carinho que pudesse desguarnecer-te a perfídia com a confiança que me negaste nos esquemas, nas patranhas, nas falinhas mansas que utilizavas para me anestesiar.

Ficas só nessa rua, apenas até encontrares o meu sucessor para esse falso amor que alardeias enquanto ocultas na liga a faca com que castigas os crédulos na tua conversa beata de louva-a-deus.

Acabo de rasgar o mapa em mil pedacinhos, o único que me permitiria, talvez um dia, enlouquecer ao ponto de reencontrar o caminho até ao cadafalso que me tentaste construir.

Volto as costas, mas não presumas optimista que descuido os espelhos que me denunciem antecipadamente o momento em que cedas de novo ao instinto mais forte, à cobardia.

Perdeste de vez a hipótese de consumares a traição que te movia.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Beco da amnésia

Reparei que viraste a cara para o outro lado, com desdém, logo que reparaste na minha presença próxima. De imediato recordei a ansiedade no retrato dos dias em que a espera te agitava num frenesi descontrolado, como uma espécie de medo que eu não viesse um dia por ter desistido de uma paixão que nos parecia imortal.
Lembro-me bem desse tempo fenomenal em que não dispensavas uma palavra minha antes do café da manhã, sedenta de uma imagem e atenta a cada som. Gritavas a saudade e juravas uma fidelidade que jamais te exigi, pois embora muito chegado a ti não poderia assumir um compromisso duplicado na pele do amante amigo, do actor secundário num papel principal.

Agora sentes-te mal por cruzares o meu caminho, por lembrares um destino que rejeitaste neste mesmo espaço.

No dia do último abraço, quando ainda me acreditavas especial.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Rua do contrasenso


Travessa dos cruzamentos

Confrontas-me com esse olhar de quem pretende devorar-me (a alma) numa fracção de segundo, todo o tempo do mundo concentrado num simples cruzar de caminhos que nos dispara o coração como a válvula de um esquentador.
Água quente de um rio no colo de uma nascente sua mãe. Lágrimas doces que pingam de ti e explodem de luz no cumprimento reflexo ao sol, como se ilumina o meu sorriso à tua passagem numa sentida homenagem a esta generosa porção de uma poderosa emoção que não nos abranda sequer a passada.

Saltos altos na calçada, feminina, percorres a rua com um ar determinado.
E eu sigo, conquistado, degustando na memória o prazer visual.

Imaginando esta curta mas feliz história com um outro final...

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Rua do apeadeiro

Reparo no teu olhar desorientado, silhueta perdida no burburinho à saída da estação no meio da multidão que ali se apeou.
Percebo-te indecisa, confusa, percebo-te musa para as palavras passageiras que desembarcam de mim neste simulacro de papel.
Penso-te agora, deslumbrante, penso-te agora muito distante mas desmente-me a lógica do que vi.

Afinal fui eu que parti, resguardado da chuva no interior da carruagem de um comboio que descobriste, apenas quando me viste, ser mais um ponto perdido no horizonte das tuas decisões adiadas.

Um ponto de partida para as tuas ocasiões desperdiçadas.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Pátio do sol

Sentada sem fazeres nada para prenderes assim a minha atenção.
Plantada como uma flor das que simbolizam o amor quando oferecidas ao par ideal.

Eu não sou. E tu és bonita demais para qualquer jarro te merecer.

Rua longe daqui




Mastercard avenue

Porque contemplas há tanto tempo essa montra?
Porque a namoras, embevecida, como se o melhor da tua vida estivesse do lado de lá dessa barreira invisível que a porta do lado elimina na condição?
Apaixonada pelo objecto que desejas e de que te queres apropriar para que te possua enquanto sabes que é tua a posse pelo direito de aquisição. O alvo da tua cobiça na palma de uma mão, a um preço que consigas suportar.

Outro capricho por satisfazer, apenas mais um.

E eu apresso a passada, atravesso mesmo a estrada. Aliviado por manteres nessa montra toda a atenção que jamais me quiseste dispensar.

Beco dos esquecidos

Espalhado pelo chão, coberto por cartão. Vadio, vagabundo, na ideia negligente dos que te vêem como um objecto representativo do fracasso, da perdição. Sem abrigo, para os poucos que interpretam essa mancha multicolor de andrajos de que se faz a tua presença como uma pessoa e não o que dela resta e a ninguém servirá seja para o que for.
Desististe do amor no meio de todas as coisas que já não tens nem reclamas, mesmo nos impropérios que exclamas encharcado numa zurrapa que te enlouquece apenas um pouco mais.

Espalhas-te pelo chão e cobres de cartão o frio, desaparecidas as vergonhas ou qualquer outro vestígio do orgulho de que entendeste abdicar perante ti próprio e aos outros nem ocorre poderes ambicionar.

Espalhado no alcatrão, abandonado como um cão no teu interior. A sós com a memória que te agride, entretido pela sobrevivência nos intervalos do tempo que dedicas à respectiva obliteração.

Rua sem saída

Cruzei-me contigo por mero acaso, do outro lado de uma rua qualquer. Olhei para ti e aquilo que vi não passava de uma representação daquilo que me parecias quando faziamos sentido a dois.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Cúmplice Algoz

Puniste-me, implacável, com a frieza do teu desdém. Castigaste-me pelo pecado de vergar demasiado aos caprichos que inventavas, de propósito, para daí resultarem os pequenos instantes de humilhação com que me quebravas pela espinha o orgulho e esmagavas aos poucos os escassos ecos de resistência no meu coração.

A minha punição, em lume brando, resultou da sentença que ao meu sentimento de pertença aplicou a tua sede libertária de independência total.
Foi o juízo final de uma condenação definitiva, tombado o amor às mãos frias do traidor que te descobriu vingativa.

No dia em que fechaste nas suas costas a porta do calabouço em que definho, a masmorra do remorso que adivinho no extremo oposto da equação onde te encontras, igualmente a cumprir pena pelo excesso cometido por esse despeito bandido que nos fez cair do céu.
E nessa perspectiva, este terrível castigo acaba também por ser o teu.

Laços sem Nó

Percebo-me, aos poucos, de costas voltadas para o sol.
Hesito até parar.
Depois começo a recuar, tacteando a berma do passeio com a traseira dos pés.

Percebo-me, aos poucos, saturado de esperar.
E começo a caminhar rumo a um futuro alternativo, paciência, enquanto o escreves pelo teu punho com a palavra ausência.

(Des)Peito Aberto

Marcas a hesitação com o pêndulo de uma emoção desgovernada, numa hora a amada que despi e agora a menina assustada que me expulsa de ti, a outra que me quer.
E eu deixo-me arrastar, infantil, pela maré que criam as tuas luas e percorro sozinho as ruas em busca de consolos de circunstância que só me acicatam a tua falta, ainda mais.

Regresso sem orgulho, rastejo aos meus olhos e aos teus. O amor que te tenho calado, para minha defesa, simulado por detrás de uma espécie de véu que me priva desse céu na tua boca que sorri quando percebes o que senti enquanto deambulava a ira passageira.

Dispara o coração, de tal maneira acelerado pela privação que o acobarda ao ponto de me humilhar perante ti e eu perceber que é de vez, atraiçoado pela lucidez que me impede de fugir da vergonha também. Da expressão vencedora que tem esse olhar de matadora que me revolta.

Mas a paixão logo sufoca a rebelião com um beijo de fogo e os corpos tombados na cama onde por certo vingarei o vexame como um homem que não te ame tanto como eu, nem verdadeiramente te queira sequer.

Ou como outro qualquer.

Reina Comigo

Tornaste-te rainha sempre que deixaste de ser minha, do teu amante plebeu.
E eu sinto que morreu qualquer coisa neste pedaço de tempo morno em que entendeste reclamar o teu trono, no reino distante onde não consigo chegar, tão longe que nem persigo com o olhar a tua silhueta difusa no horizonte a que viro as costas desertor.

Sinto que morre parte do amor, atrofiado pelo ciúme que do meu lado vem a lume quando imagino o teu corpo deitado e preencho o espaço em branco a teu lado com o contraste bem negro da sombra de outro homem qualquer.

Procuro noutra mulher o gosto acre da vingança mas nunca abdico da esperança de um dia reinarmos a meias no teu castelo de onde jamais alguém saiu.

Porque só nas fantasias plebeias a ponte levadiça nunca existiu.

Eternamante

Lembro-me, sim, que prometias caminhar até ao fim, comigo, por uma estrada completamente ladeada de árvores de fruto onde cantavam os pássaros que escuto na memória dos dias em que me permiti sonhar um amor genuíno.

Recordo também o destino que lias, cigana, nas palmas das minhas mãos, na cama, enquanto brincávamos com partes dos corpos a sério que transpiravam, pouco tempo depois, numa manta estendida à pressa no chão.
Era para sempre, dizias. Mas aos poucos desmentias pressupostos e acumulávamos desgostos na traição da tua ausência, muitos pesos na consciência que viraste como canhões contra o falso inimigo em que aparentemente me tornei.

Lembro-me que sonhei um dia o filho que te faria, o coração que me cegava e que tudo perdoava, a razão perdida numa discussão que abortava, pela evidência do meu engano, a loucura desse plano desesperado para te prender a mim de alguma forma.

Mas agora deixo que o sonho durma, enquanto finjo que me esqueço, de cada vez que me despeço, a verdade adormecida no encanto do teu olhar que já não reflecte o mesmo amor que me afirmavas nos dias quentes de que me lembro agora.

O sopro gelado de beijos distantes inspira-me um sentimento de vazio. E por mais que nos lembre amantes não consigo combater esse frio.

Vias de Facto

Puniste-me, implacável, com a frieza do teu desdém. Castigaste-me pelo pecado de vergar demasiado aos caprichos que inventavas, de propósito, para daí resultarem os pequenos instantes de humilhação com que me quebravas pela espinha o orgulho e esmagavas aos poucos os escassos ecos de resistência no meu coração.

A minha punição, em lume brando, resultou da sentença que ao meu sentimento de pertença aplicou a tua sede libertária de independência total.
Foi o juízo final de uma condenação definitiva, tombado o amor às mãos frias do traidor que te descobriu vingativa.

No dia em que fechaste nas suas costas a porta do calabouço em que definho, a masmorra do remorso que adivinho no extremo oposto da equação onde te encontras, igualmente a cumprir pena pelo excesso cometido por esse despeito bandido que nos fez cair do céu.

E nessa perspectiva, este terrível castigo acaba também por ser o teu.