sábado, 29 de março de 2008

quinta-feira, 27 de março de 2008

segunda-feira, 24 de março de 2008

Avenida dos sonhos

Vejo-te tão bonita, entretida a ler um livro na paragem do autocarro no lado oposto da avenida.
Gosto muito mais da vida quando posso olhar-te assim, em silêncio. Enquanto me esforço a pensar como poderás ser minha.
Enquanto me imagino transporte público, de carreira, só para te poder apanhar.

domingo, 23 de março de 2008

Rua dos milagres

Na rua o povo festeja o alegado desaparecimento do cadáver de um homem muito especial. Acreditam-no divinal, eterno milagreiro, o povo festeja o padroeiro de um mundo de pernas para o ar.

Capazes de acreditarem em milagres tão religiosos como um coelho a pôr ovos de chocolate, assumidamente pagãos.

Mas incapazes de seguirem os preceitos mais elementares nos seus comportamentos desses importantes ensinamentos, alegadamente cristãos.

sexta-feira, 21 de março de 2008

quarta-feira, 19 de março de 2008

Rua do quartel

Passo ao lado e até finjo nem ver, a triste figura dos que julgam poder reclamar para si o estatuto de galos únicos na capoeira. Os que desertam de batalhas que nem chegam a começar, pois não se justificam, e regressam depois de convictos da cessação das hostilidades, fardados a rigor como paladinos do amor mais estéril, galarós.

Palermas que se sentem tão sós na sua visão reducionista das pessoas que entendem como troféus e ainda por cima os estimulam na sua demanda inglória por um lugar em qualquer história que seja digna de contar depois.

Passo ao lado e sigo o meu caminho programado, com pequenos acertos na rota. Os necessários para me afastar de quem me inspira misericórdia, afogados numa mixórdia de complexos de inferioridade com sede de projecção.

Conheço-os de ginjeira, vizinhos, cada um com os seus caminhos tortuosos a percorrer.

Faço de conta que nem estou a ver, viro as costas pelo doce prazer de assistir ao seu regresso ao centro da praça, em busca do seu sol privado, guardado esse bocado para os que na realidade vivem das sobras que lhes dão mas alardeiam na ficção os seus patéticos galões de hipotéticos conquistadores.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Praça deserta

Fartei-me de caminhar num espaço vazio.
Desandei dali.
Também.

É impossível escrever

Um amor que não se faz.

domingo, 16 de março de 2008

terça-feira, 11 de março de 2008

Travessa da tampa

As horas passadas na ausência de um sinal, olhos postos nas letras de um jornal encaradas como gravuras. Sem pachorra para leituras perante a tampa que me salta pela tampa que me preparo para levar.
As horas que insistem em passar e eu indeciso acerca do rumo a dar a tal dia, na ausência de uma maria por quem desmarquei as coisas que pensei para ocupar o tempo precioso agora esbanjado na ruminação interior da desfeita.

O limite traçado num ponto qualquer do tempo marcado no telemóvel que insiste no silêncio comprometedor das ilusões seja de quem for de me voltar a pôr a vista, excepção feita a um argumento catastrofista que possa atenuar a evidente desconsideração de que não me sinto merecedor.

O jornal num contentor e o passo apressado na direcção do outro lado da rua, a decisão inevitável diante do mutismo inexplicável que me perturba sobremaneira.

Mas a vida é tão porreira que me oferece de bandeja a opção que se deseja quando o orgulho ferido se vê tão bem substituído por alguém com arte e sabedoria para lhe dar a estocada final e nos fazer subir o astral rumo ao paraíso que concebemos no céu, mas na terra é que ele se faz .

A vida é mesmo capaz de das maiores piruetas para nos deixarmos de tretas e de aceitarmos o milagre tal e qual se revela.
A vida é mesmo bela.

E eu quero vivê-la sem regras bacocas, sem permitir às desilusões que passem de pequenas perturbações afinal tão inócuas...

segunda-feira, 10 de março de 2008

Barbearia Gonzaga

Ridículo na cadeira, observo pelo espelho quem passa lá fora enquanto finjo que escuto a conversa de taxista do homem da tesoura.
Uma morena e uma loura, por uns instantes, de uma ponta à outra de uma montra sempre pequena demais.
O homem da tesoura que recita os jornais desse dia, o Sporting que perdia e o Benfica que se deixou empatar. Mais um político a aldrabar e uma criança molestada, a tesoura tão afiada de raspão numa patilha e a aparadela distraída de uns centímetros a mais.
Desculpe que eu acerto já, num instante...

E as madeixas exageradas a choverem no chão, o rosto parvalhão naquele espelho, espelho meu há alguém mais ridículo do que eu nesta cadeira, outra loura passageira no reflexo, por detrás, e eu estico o pescoço sem querer com a vontade de a ver abaixo da cintura e o homem da tesoura, por azar, nela prendeu o olhar também.

O corte à mancebo e eu a ver se percebo como pode uma coisa destas acontecer. O pescoço a doer por debaixo do penso rápido, fique com o troco, e fujo dali, está tudo louco, em busca de um refúgio qualquer.


A vista pousada numa mulher que domina o horizonte do outro lado da rua, imagino-a toda nua.
Ridículo, na cadeira da esplanada, com a bica entornada, bem quente, parvalhão, no colo imprudente de um gajo em dia não.

sábado, 8 de março de 2008

terça-feira, 4 de março de 2008

segunda-feira, 3 de março de 2008

Rua do mercado

Percorro a teu lado a rua do mercado como um puto feliz. Noto, confiante, a forma como sorris e sinto presente uma agradável empatia.

Alimento essa magia com um momento irresistível de humor enquanto nos vejo a fazer o amor num compartimento isolado do meu cérebro dividido em dois. Um trocadilho hilariante e o silêncio depois, enquanto parecemos pausar no sentido de tomar a decisão que se impõe.


A hesitação que se interpõe naquele hiato, confrontados com o facto inquestionável de o outro ser tão desejável mas existirem as múltiplas barreiras que se constituem impedimento quando se aproxima o momento de avançar com determinação.

O constrangimento da situação que ameaça destruir as hipóteses de se consumar este apelo poderoso e eu muito ansioso por encontrar a frase mais certa, a abordagem mais correcta para espantar os fantasmas que nos possam impedir.


A pressão que ameaça entupir a verbalização de um desejo incontido, o olhar tão distraído a revelar-te o quanto te quero nesse instante. A alusão aos sinais do destino que nos indicam o caminho, com o ar de quem até acredita nessas coisas, até à colisão frontal com o indicador de trânsito em metal que desfaz a pose enquanto te desmancha em gargalhadas.

A seta branca em fundo azul, sentido obrigatório, apontada por coincidência para a rua onde uma casa nos aguarda para concretizarmos enfim aquilo que o destino assinalou em mim, num dos lados da cabeça.

Os teus beijos a fazer com que esqueça a dor do hematoma, os dois deitados numa cama onde irá acontecer aquilo que estava afinal predestinado no sinal abalroado.

E na chispa que de repente incendiou o teu olhar.

domingo, 2 de março de 2008

Rua sem nome

E de repente percebo-me perdido num ponto qualquer desta cidade sem fim que acontece dentro de mim, numa hora de ponta permanente que me priva da lucidez.