domingo, 3 de fevereiro de 2008

Rua da amargura

Fingiste tentar. Tentaste desafiar, a ver se pegava. Provocaste sensual e depois insultaste boçal quando percebeste o fim da esperança na imagem distante das costas que te voltei.
Percorreste a rua em busca de uma vingança que não te merecia a minha discrição onde morreram as tuas tentativas fingidas, as tuas emoções mascaradas de uma paixão de carnaval.
Nem essa foi conseguida, avisado que estava da falsidade da tua intenção. Avisou-me o coração que desmentia as tuas palavras, essas mesmas que não passavam de um esqueleto visível do teu abjecto ardil.

Jamais pisaremos de novo a mesma rua ou partilharemos um espaço comum, ciente que me deixas da diferença existente entre ti e as outras que tentaste em vão conspurcar com o manto de dúvida que tive o cuidado de te cobrir pelas costas, com todo o carinho que pudesse desguarnecer-te a perfídia com a confiança que me negaste nos esquemas, nas patranhas, nas falinhas mansas que utilizavas para me anestesiar.

Ficas só nessa rua, apenas até encontrares o meu sucessor para esse falso amor que alardeias enquanto ocultas na liga a faca com que castigas os crédulos na tua conversa beata de louva-a-deus.

Acabo de rasgar o mapa em mil pedacinhos, o único que me permitiria, talvez um dia, enlouquecer ao ponto de reencontrar o caminho até ao cadafalso que me tentaste construir.

Volto as costas, mas não presumas optimista que descuido os espelhos que me denunciem antecipadamente o momento em que cedas de novo ao instinto mais forte, à cobardia.

Perdeste de vez a hipótese de consumares a traição que te movia.

4 comentários:

Artemisa disse...

Essa rua esconde o ninho de uma víbora...fizeste bem em desfazer-te do mapa, mas tem cuidado para não voltares lá sem querer, durante as tuas deambulações.

Espero ver-te num espaço mais soalheiro num futuro próximo :-)

Beijo

Anónimo disse...

Que fossem destruidos todos os mapas que nos levam a esse tipo de desvaneios... =)

CatDog disse...

Naturalmente, Artemisa, percorrerei também as artérias bonitas deste mundo meio a brincar em cuja capital passeio as minhas histórias.
Contudo, todos sabemos que nem todas as vielas nos levam à alegria ímpar do amor honesto (ou sincero, se preferires)... ;-)

CatDog disse...

Femme Fatale, e depois como aprenderíamos a reconhecer os mapas para os pontos que verdadeiramente nos interessa viver?
A aprendizagem dos melhores caminhos, do sentido de orientação, também passa por nos perdermos aqui e além e habituarmos a vida a ter pontos de referência.