quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Beco dos namorados

Entrego-me à nostalgia e decido investir o dia a calcorrear antigos caminhos, a saborear as vozes, os cheiros e os tons.
As velhas ruas da infância embevecida a contemplar janelas por onde despontavam, a horas certas e determinadas, os rostos das namoradas que o passado me ofereceu.
As ruas que se percorriam devagar na adolescência, tentando aumentar a distância percorrida sobre as nuvens de uma paixão assolapada. Um beijo em cada vão de escada, a permanente e mal controlada vontade de ir um pouco mais além.

Caminhos renovados pelos passos apressados de adultos que preferiram esquecer o amor e aprender a lidar com a dor da separação, com o advento da resignação nas segundas escolhas que jamais conseguem transcender-se nas expectativas de quem não as preferiu mas apenas preencheu um vazio de forma atamancada.

Com cada namorada uma sensação especial, no meu coração, fundamental, ser grato por aquilo que partilharam enquanto comigo nas ruas amaram antes do tempo a dois se esgotar.
O prazer de namorar, de aprender a amar nas alegrias e nas tristezas, de apreciar as muitas belezas que apenas desabrocham sob a luz e o calor intensos da paixão.

Acarinho a recordação de cada rosto com nome, uma saudade que jamais se transforme num azedume ressabiado, em cada momento lembrado num ponto de referência qualquer.
Acarinho a imagem de cada mulher que namorei nestas ruas.

Mesmo das que desertaram no momento em que se souberam duas...

6 comentários:

Artemisa disse...

Sabe tão bem, a nostalgia... :)

Tem um travo agridoce, cheio de sonhos por realizar e aventuras vividas...lições aprendidas, erros cometidos e perdoados...mas não esquecidos.
Cada um com os seus encantos, histórias diferentes entrelaçando-se na nossa própria História :)

E tu, não desertarias ao descobrires-te duplicado...?

Beijos

CatDog disse...

Não, Artemisa, não desertaria.
E acredita que posso afirmá-lo.

Beijos.

Artemisa disse...

Eu não gostava... -_-

Tenho mau feitio, lol.

CatDog disse...

Eu também tenho mau feitio, mas o amor sério superioriza-se a esses detalhes secundários...

Artemisa disse...

É um detalhe importante, CatDog...
E se o amor for sério, não há vidas duplas.

CatDog disse...

Vidas duplas? Elimina o segredo da equação (aliás, só por não se guardar segredo é que as pessoas ficam ao corrente) e logo vês que essa expressão não se adequa.
São vidas únicas, partilhadas com uma pessoa de cada vez mas num tempo coincidente.
(Com duas ao mesmo tempo, num momento de desvario, só aconteceu uma vez...).

Mas claro que estamos a falar de personagens, ficção e assim.