segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Travessa das iguarias

Brilha o sol e ajuda-o cada lençol branco pendurado no estendal, reflectindo na calçada e nas paredes envelhecidas um revigorante acréscimo de luz.
Tal e qual como o que se produz quando te vejo cruzar essa porta e o teu rosto vem iluminar ainda mais o meu dia.

Invade-me uma alegria soalheira, a certeza de um período à maneira sob o auspício do teu sorriso e a transparência marinha desse teu olhar meio verde ou meio azul.
Recordas-me os mares do sul e eu, marujo por vocação, navego pelo coração e enfrento uma tempestade interior quando me apercebo do furor que provocas à tua passagem. O ciúme tornado vertigem no enjoo de embarcado num oceano revoltado pela cobiça de tantos pretendentes ao matrimónio ou, como eu, apenas aspirantes a um amor transitório entre portos de abrigo que se convertem num castigo quando chega a hora de zarpar.

Brilha o sol no teu olhar. E eu, ofuscado, desvio o meu para o outro lado para me poupar à dor da luminosidade agressiva e ao torpor da velocidade excessiva a que no meu peito circulam as emoções por ti provocadas.

Sensações ensolaradas, nas manhãs em que percorro a tua linha costeira da cabeça aos pés e receio encalhar a traineira no regaço do teu mar que me amedronta desequilibrado no convés.

Sei que pouco adianta tentar fugir do sol e procurar a escuridão prudente.
Tu és como um farol.

E eu vejo-te e fico cego e sabes bem como cedo ao teu foco de atracção incandescente.

9 comentários:

Artemisa disse...

"Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras."
Sophia de Mello Breyner Andresen

:-)

CatDog disse...

Eu e o mar temos uma relação mais ou menos como esse poema descreve... :-)

Artemisa disse...

Vem me pareceu, por isso é que o escolhi ;)

Também tenho uma relação peculiar com o mar.

Beijos

Artemisa disse...

Ui...estou com pronúncia de Torres Vedras!
*bem* me pareceu.

Shame on me.
Bjs

CatDog disse...

Tá bem, eu bou.
(Que tal a minha pronúncia tripeira?) :-)

Artemisa disse...

Pelos vistos isto da pronúncia pega-se à geração seguinte, pq eu sou alfacinha :p

Tripeiro, hein? :-)

Anónimo disse...

Jamé. Bem mais a sul... :-)

Artemisa disse...

Marrocos? :p
Lol!

CatDog disse...

Às vezes parece... :-)