quarta-feira, 25 de junho de 2008

Rua da Fé

A folha caída da árvore cedeu à gravidade quase em simultâneo com a alça que tombou o bastante para oferecer um ombro desnudo à minha atenção.
Perdi o rasto à folha, o Outono podia esperar, enquanto me deixava arrastar, fracções de segundo, pela sensualidade repentina que explodiu no meu rosto quando se espalharam rios feitos de cabelo naquela pequena porção de mulher.

Instintivamente ela moveu o braço esquerdo na direcção da alça rebelde mas estacou quando o seu olhar se cruzou com o meu.
Hesitei entre fazer de conta, disfarçar, para a poupar a um possível embaraço ou aproveitar cada instante precioso daquele momento de excepção.
O impulso mais forte venceu e ela percebeu e acrescentou à beleza da situação um sorriso tão divertido quanto provocador.
Deixou-se ficar assim, alheia ao grupo que a rodeava sem lhe prestar a devida atenção.

E eu, hipnotizado, saboreei a emoção alternando entre o deleite na visão daquele ombro e o desafio que conseguia ler-lhe no olhar.

Depois deixei de hesitar.

Avancei confiante mas sereno o bastante para lhe dissipar quaisquer receios. Apresentei-me e partilhei com ela, palavras escritas com a voz, os contornos do impacto sofrido. Sempre muito descontraído mas sem correr o risco de a intimidar de alguma forma, depois de uma troca simpática de pequenos esboços de nós que reduzissem a distância, convidei-a a prolongar o diálogo na esplanada da Rua da Fé.

O milagre não teve por onde fugir.

3 comentários:

M disse...

Ena, ena! Com Final Feliz! :p
***

Anónimo disse...

Também os construo, pensas o quê?
:-)

Olá!! disse...

Rua da Fé???? hummmm ok...

Beijossssssssss