A folha caída da árvore cedeu à gravidade quase em simultâneo com a alça que tombou o bastante para oferecer um ombro desnudo à minha atenção.
Perdi o rasto à folha, o Outono podia esperar, enquanto me deixava arrastar, fracções de segundo, pela sensualidade repentina que explodiu no meu rosto quando se espalharam rios feitos de cabelo naquela pequena porção de mulher.
Instintivamente ela moveu o braço esquerdo na direcção da alça rebelde mas estacou quando o seu olhar se cruzou com o meu.
Hesitei entre fazer de conta, disfarçar, para a poupar a um possível embaraço ou aproveitar cada instante precioso daquele momento de excepção.
O impulso mais forte venceu e ela percebeu e acrescentou à beleza da situação um sorriso tão divertido quanto provocador.
Deixou-se ficar assim, alheia ao grupo que a rodeava sem lhe prestar a devida atenção.
E eu, hipnotizado, saboreei a emoção alternando entre o deleite na visão daquele ombro e o desafio que conseguia ler-lhe no olhar.
Depois deixei de hesitar.
Avancei confiante mas sereno o bastante para lhe dissipar quaisquer receios. Apresentei-me e partilhei com ela, palavras escritas com a voz, os contornos do impacto sofrido. Sempre muito descontraído mas sem correr o risco de a intimidar de alguma forma, depois de uma troca simpática de pequenos esboços de nós que reduzissem a distância, convidei-a a prolongar o diálogo na esplanada da Rua da Fé.
O milagre não teve por onde fugir.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
domingo, 22 de junho de 2008
Rua do oeste
Estás entediada no meio de uma pequena e ruidosa multidão de palermas.
E eu sonho-me de imediato a galope no corcel branco para cuja garupa te puxo, percorrendo a avenida sob os aplausos dos que nos adivinham a caminho de um paraíso qualquer.
E eu sonho-me de imediato a galope no corcel branco para cuja garupa te puxo, percorrendo a avenida sob os aplausos dos que nos adivinham a caminho de um paraíso qualquer.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
quinta-feira, 12 de junho de 2008
É só pedir...
São dez, apenas dez pequenos pecados que me façam nutrir um sentimento de culpa. E aqui existe um contrasenso meu: são apenas dez de entre centenas de pecados, mas são uma multidão de dez pelos quais eu sinta algum tipo de remorso ou de desconforto ou outro tipo de sentimento de culpa. Titânico, o esforço. Mas bute.
1 - Em qualquer das minhas birras de menino mimado, curto sempre o prazer de perturbar quem as justifica mas não me perdoo a figurinha.
2 - Involuntariamente, a minha vista deixa-se arrastar para o traseiro da vizinha de cima e é uma maravilha, mas fico um nadinha constrangido por isso só acontecer quando apanho o vizinho pelas costas.
3 - Sempre que fumo em locais proibidos por lei (sem hostilizar descaradamente os antitabagistas, claro) experimento a tal sensação ambivalente.
4 - Quando penso com outra parte do corpo que não o cérebro.
5 - Nos raros momentos de insanidade temporária em que ultrapasso os 220 km/h na auto-estrada.
6 - Sempre que consigo argumentar na perfeição em abono da posição contrária à que subscrevo, só para treinar a palheta e danar um/a teimoso/a ou apenas incoerente.
7 - Quando consigo dizer não a quem já contava com o sim no cu da galinha.
8 - Sempre que me faço esquecido e abro a porta em tronco nu às Testemunhas de Jeová.
9 - Quando se torna claro que a próxima será a mulher do próximo.
10 - Na minha invariável opção de matar correntes virtuais, não as transmitindo a alguém.
1 - Em qualquer das minhas birras de menino mimado, curto sempre o prazer de perturbar quem as justifica mas não me perdoo a figurinha.
2 - Involuntariamente, a minha vista deixa-se arrastar para o traseiro da vizinha de cima e é uma maravilha, mas fico um nadinha constrangido por isso só acontecer quando apanho o vizinho pelas costas.
3 - Sempre que fumo em locais proibidos por lei (sem hostilizar descaradamente os antitabagistas, claro) experimento a tal sensação ambivalente.
4 - Quando penso com outra parte do corpo que não o cérebro.
5 - Nos raros momentos de insanidade temporária em que ultrapasso os 220 km/h na auto-estrada.
6 - Sempre que consigo argumentar na perfeição em abono da posição contrária à que subscrevo, só para treinar a palheta e danar um/a teimoso/a ou apenas incoerente.
7 - Quando consigo dizer não a quem já contava com o sim no cu da galinha.
8 - Sempre que me faço esquecido e abro a porta em tronco nu às Testemunhas de Jeová.
9 - Quando se torna claro que a próxima será a mulher do próximo.
10 - Na minha invariável opção de matar correntes virtuais, não as transmitindo a alguém.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
terça-feira, 3 de junho de 2008
Vista de fora
Ao longe a cidade brilha sob um halo alaranjado de luz que lhe pinta o céu da madrugada, formando como que uma cúpula assinalada por um gigantesco letreiro de neon. E eu hesito e não avanço, preciso de espaço entre mim e aquele tapete de casas que cobre o mesmo chão onde antes cresciam as árvores e agora apenas medram habitáculos de betão.
Ao longe a cidade zune um som imperceptível que me evoca a sua respiração, ofegante, sob o manto de poluição sufocante que asfixia uma população cada vez mais vazia de vontade e menos dotada de capacidade para suportar as agressões de que uma cidade é capaz.
Ao longe a cidade que nos faz sentir periféricos nos subúrbios da emoção enquanto se instala arrogante no centro da nossa atenção.
Ao longe a cidade zune um som imperceptível que me evoca a sua respiração, ofegante, sob o manto de poluição sufocante que asfixia uma população cada vez mais vazia de vontade e menos dotada de capacidade para suportar as agressões de que uma cidade é capaz.
Ao longe a cidade que nos faz sentir periféricos nos subúrbios da emoção enquanto se instala arrogante no centro da nossa atenção.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
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